ESCRITA | POESIA

Estes textos foram escritos à alguns anos, falam de amor e de outras coisas parecidas...em dias bons e em dias em que a vida é como se tivesse feridas



E se a vida desse tantas voltas quanto aquelas que pode dar, e um dia acordasse e pensasse que iria em vez de voltar a cair, tornar a começar?




O sítio onde deveria estar permanece completo sem mim, porque só eu sei que lá me deveria encontrar.
O lugar, incompleto sem mim, jaz sem espaços por completar, mas eu estou aqui e não no lugar onde deveria estar.





O PESO
Às vezes perdemos a percepção exacta do peso que têm as palavras e só voltamos a estar conscientes dele quando vemos fora o que também existe em nós, dentro.
Já viste a que ponto chegamos? Já viste a que ponto nos deixamos chegar?
Não existem razões plausíveis que justifiquem isto, ou talvez existam, mas já perdemos a capacidade de dar explicações racionais, agora embora não pareça, comunicamos por código e esperamos que nos entendam. Será genético?! Será que podemos retirar de cima o peso da responsabilidade?!
Sinceramente acho que não. A culpa, se é de culpa que se trata, é nossa.




A doçura amarga, amargamente doce, daquilo que seria melhor que fosse

Também conheces a doçura amarga do amor, não conheces?
Conhece-la…assim como conheces a brandura desfragmentada do amante que não encontra no amor que sente, amor da parte daquele pelo qual o seu coração bate intermitente…

Também conheces a amargura doce do amor, não conheces?
Conheces sim…mal de ti se a não conheces…e sei que sabes também que somos ridículos, nós, os mortais amantes eternos, que nutrimos a vontade inconsciente de termos mais em nós que nós, e de acedermos a paraísos e não a infernos…
Somos tão ridículos nós, os amantes sozinhos, e mesmo tendo nós todo o direito a sê-lo, o caricato carácter que temos deixa-nos constrangidos.
 Só nos vai então amenizando a vergonha o facto e sermos todos iguais, no meio de amores que são vendavais.

Conheces a dolorosamente amarga, a docemente quente, doença do amor, não conheces? Tal como eu…Assim como eu…
Sou ridícula. Somos ridículos! Disso nunca restarão dúvidas, mas tal como tu, mas tal como todos, tenho todo o direito a sê-lo. Tal como tu, tal como nós todos!




A noite é escura, o escuro é frio, o frio causa dormência e a dormência, frio.
O dia é quente, o quente queima, o sol aquece, e o amor teima.




As minhas lágrimas juntas ao teu tormento são ambas passagem de um mesmo sentimento. Vozes sem alma, palavras sem significado…
Para onde foi afinal a sorte que não pára ao nosso lado, estando a minha dor e o teu sofrimento, perdidos na inexistência de um só fado…





SERÁ
Será que após tanto tempo, tempo e mais tempo, será que após tantas horas e horas de desalento, dias e dias de agonias, meses de revezes, meses que mais que meses, me pareceram durar anos, horas, vários meses de mil anos… Será que após o que já veio, virá o que mais quero e o que mais receio, sem que já tempo exista pelo meio? Será? Seria bom? Que seja…que nasça então o sol, e que a sorte queira que eu o veja.
Será que vou… ou será que vamos?...Sou, somos, não estamos mas estaremos? Só espero que ainda a tempo nos encontremos…

Dez silêncios de dor e um grito desesperado, muito se chora por um amor que não nos leva a nenhum lado. Dez palavras sem sentido, murmúrios de um coração ferido, como seria bom se o que quis, algum dia tivesse sido.

E o tempo, e o tempo que foge de nós sem que o tenhamos vivido, agora falta pouco, ele já não pode ser vencido. As oportunidades fortuitas que nos deu foram desaproveitadas, as consequências das coincidências que nos ofereceu não foram agarradas, será que ainda, no pouco tempo que nos falta, teremos tempo para colmatar o tempo em que respiramos sem ar, em que falámos sem palavras, em que jogamos sem trunfos, e em que sonhamos sem acreditar? Será que teremos uma última oportunidade, de acabar com a mentira e de consumar a verdade?




Queria...

Queria dizer-te o que nunca ousarei dizer-te, no fundo,
Queria pedir-te o que nunca te pedirei,
Queria que me dissesses que o meu mundo,
Ou o mundo que quero ser e ter, o mundo onde serei e terei,
Diz o que te aprouver...
 É tão legítimo como outro mundo qualquer.
Queria que mo dissesses,
Queria ouvir-te dizeres-mo,
Queria que o repetisses
 Para que à latente insatisfação finalmente pusesses termo.




«O» momento

Um momento, fugaz, passageiro, irrepetível, mas igual.
De repente, de rompante, assim, sem começo, nem fim. Mas será que sabes aquilo que significou para mim?
 Não, não sabes, como poderás saber? Nem sequer o poderás sonhar...
Não me iludo, que só me sei desiludir, nem vou chorar, tudo me dá vontade de rir...
É melhor assim, menos constrangedor, o momento é meu, assim como eu sou integralmente minha. Minha na plenitude de um abandono, de mim foi-se embora a vontade, que sem saudade se deixou levar pelo sono...
Mas não me sai da memória o momento, tão ridiculamente ternurento, sem sentido, sem fundamento…
 Malfadados os momentos de cruzamentos, em encruzilhadas de particulares tormentos! …
Maldito esse e todos, malditos sejam todos e nenhuns!
Ficou cravado na alma, este fragmento particular a que me refiro, os sulcos das suas formas são profundos e doem, porque definem mundos, tão enigmáticos, como imundos.

Desvia-se o olhar tão rapidamente como se olhou, acontece o momento, passa o momento e fica, somente eu consciente do que significa.
Os olhos gravaram a imagem, o tempo passa, mas se a desejar ver vejo-a tão nítida, límpida, perfeita...que por nem me parecer possível, se desvanece e fica desfeita…
Vemos tanta coisa enquanto temos os olhos abertos, posso não saber de que cor são as paredes da sala onde estou todos os dias, mas conheço todas as cores que podes ter, com o poder da imaginação que exige tempo e dedicação...que para ti disponho em excesso…frustrada com o tamanho do meu insucesso…



A sensibilidade

Somos muitos sensíveis nós…e elas, as desilusões não matam mas doem…
Estamos destinados a desiludir e a sermos desiludidos, e a consciência de ambas as realidades causam-nos remorsos.
Desiludir faz-nos sentir culpados por não irmos de encontro às expectativas dos outros, às necessidades dos outros, aos valores que nos atribuíram em tempos e ao sentimento que existia.
Ficarmos desiludidos, por sua vez, corrói-nos por dentro, exactamente, por nos deixarmos desiludir, mesmo sabendo que errar é humano…que sempre nos deixarão sozinhos, tal como nós também os deixamos, a eles, aos outros…




A comodidade de se permanecer à superfície

Ás vezes não começamos porque sabemos à priori que não nos darão a oportunidade de terminar.
Às vezes não nos alongamos porque sabemos que ninguém está disposto a ouvir-nos por muito tempo.
Parece que toda a gente, ou quase toda, ou só alguma, se contenta com colegas, conhecidos, e amigos de ocasião.
Á superfície é que está bem, ninguém, ou quase ninguém, ou só alguns parecem querer conhecer a beleza profunda dos oceanos, e só alguns, não sei se poucos ou muitos, alguns que são na verdade imensuráveis, sentem curiosidade em conhecer os atalhos dos pequenos mundos que todos nós constituímos.
Quero acreditar que sejam ditames da falta de tempo, os que levam a maioria a ser tão pouco aventureira e a permanecer indiferente às florestas densas que cada um de nós alberga.
Quero culpar o tempo pelo fenómeno e não quero responsabilizar a superficialidade das relações pela nossa ignorância simplista, espero que o culto dos mergulhos sem apneia, não seja um sinal evidente de que os elementos da tal maioria tomam as pessoas como criaturinhas simples, lineares, ocas, que não são mais do que aquilo que achamos delas…





Se falo, quando o silêncio seria de ouro, é porque falar é preciso, mesmo sendo aquilo de que se fala um lugar profundamente impreciso…

Dissecamos. Tanto primeiro eu e tu depois, como tu primeiro e eu de seguida. Fazemos das palavras retalhos, e examinamo-las tentando encontrar nelas, mais do que nelas existe.
Fazemo-lo por prazer, até que o cansaço nos faça ceder. Aos dois, ou pelo menos a um de nós.
Sentimo-nos impelidos a dizer qualquer coisa, sempre, por mais ridícula que seja, por menos sentido que faça.
O que interessa é que não fiquemos sem palavras, mesmo quando sabemos que devíamos deixar que o silêncio substituísse os termos com que brincamos sem cuidado, por não temermos, corajosos que somos, o curioso resultado.
O resultado, esse é por vezes catastrófico: pensa-se o que não se devia, diz-se metade do que se queria, e deixasse o mais importante por não ter sido explicado, cair no buraco ambíguo das interpretações.
Somos pouco sensatos, nada metódicos, demasiado novos e espertos, por tal, de forma irresponsável tocamos livres de medo em pólos distintos, até que sem que entendamos como, acabamos por tocar onde já doía sem sabermos.
No local exacto, que por termos ingenuamente atingido começou a doer ainda mais.
A gravidade das feridas abertas, ou mal cicatrizadas, justifica as reacções…
As justificações são pedidas, achamo-nos inocentes e de facto somo-lo, na pureza do nosso desconhecimento, relativo àquilo com que lidamos.
Não nas dão, as justificações que queríamos…A justificação, os argumentos utilizados não os achamos válidos… Insistimos…sem percebermos o que fizemos.
Na verdade não fizemos nada…Insistimos sem perceber, porque definitivamente não fizemos nada.
Esquecemo-nos foi de um pormenor fundamental.
Ignorámos placidamente o facto de antes dessa conversa ter existido vida. Não caímos nele, no dito dialogo com sabor a julgamento, vindos do nada, filhos do vazio, e a desejar ir para lado nenhum…
Existe um contexto do qual não podemos descontextualizarmo-nos… existirá sempre por mais benéfica que nos fosse a sua inexistência.
O dialogo foi antecedido por um passado que condicionou o presente. Seria preciso conta-lo todo para que a reacção fosse compreendida, seria imprescindível narra-lo sem eufemismos, e em simultâneo com a razão e com os sentimentos, ou seja de forma clara e concisa, mas não livre de hipérboles, mas não livre nem de metáforas, nem de realidades abstractas…
Se fossemos lineares tudo se simplificaria, porém de interessante não existiria o que sobrasse.
Não temos tempo para pensar em tudo…Não temos a oportunidade de dissecarmos a nossa vida perante outrem…não somos donos do tempo…tal como não o somos de nada…

E assim começa a parte da história em que começamos a temer as palavras, isto é, a parte ou fase passageira em que eu começo a temer as palavras …

Mas se falo, sabendo que dificilmente conseguirei dizer o que quero, mas se digo, sem nunca ter segurança no que falo, é porque não posso deixar-me submergir pelo silêncio, é porque apesar de tudo sou humana, e como humana que sou, não deixo de ser um animal social.
Um animal que embora racional, se assemelha demasiadas vezes a um, sem clareza no pensar, logo tão irracional, como um feliz animal…




A estação de metro

O lugar é uma estação de metro, mais particularmente aquela onde estou sem lá estar. Quanto ao tempo, resume-se à particular hora em que toda a gente recolhe para onde quer que seja que possa regressar, normalmente, num hábito incontornável, para o sítio que pode chamar de lar…
O espaço é comum, público, utilitário, os mundos por sua vez são particulares, mas paralelos, oblíquos, concretos, e infinitos em significações. Distintos, mas indistintamente ligados por uma necessidade comum, a de entrar num serviço concretizado em transporte que os levará para onde querem ir.

A estação antes de mim não existia, mas de repente apareço eu, assim do nada, no preciso lugar de que estou a falar, à hora marcada, da minha imprevisível chegada, e o lugar que não tinha lugar, aparece do nada, a fim de me encontrar.
veríamos
fez como eu faria se a deixasse primeiro. Sem dizer palavra, sem vencer o receio.
Existem sempre referências do outro lado que nos roubam a apatia, de não querer ver mais do que dentro se via.

Bem, vem ai a minha serpente, mas não me condenará. Não pequei porque a maça partiu, o pecado fugiu de mim, como de mim fugirei sem demora, para dentro do que nasceu fora.
Entro. Sento, não sento? Sinto que não sinto? Acredito na mentira e deixo de saber que minto? Não sento. É de pé que se ganham raízes, e é de pé que se parte, se de partida eventualmente se tratasse.
Música porque é que te reneguei? Salva-me deste silêncio confrangedor de espaços pessoais descaradamente corrompidos e livra-me de cair na tentação de deixar que íris fitem íris e que pupilas se dilatem, encarando pupilas, sem dilatarem pupilas.
Como iria doer a indiferença espelhada nos olhos em que não se passa de mera presença acessória do espaço, que se fosse vazio pareceria um terraço.
Estação terminal. Como chegou depressa, há dias em que desejo que a viagem não acabe. É do fim que tenho medo. Cheguei cedo. Saio como todos os dias. A máquina vazia, mas inteligente, controla o meu passeio permanente.
Um daqueles passeios que em vez de descontrair, transborda de tensão, tanta vida para sentir, e eu a pensar no peso da ilusão…




Num segundo, um segredo: para voar no teu mundo, vou saltar de um penedo...

O que é que me vais pedir? O mundo? Um segundo? Um segredo? Ou um penedo?
O que é que me vais pedir?
Pede-me tudo, menos que deixe de ter medo.
O mundo, não tu posso dar, porque o não possuo,
Caso fosse meu, o mundo
Eu dar-te-ia o mundo
Para obter de ti um segundo
Um único segundo é pouco, eu dar-te-ia, de bom grado no fundo, todo o tempo de que disponho no mundo
E o fado deixaria de ser fado
Não existiria tristeza, nem saudade ao teu lado.

E um segredo, antes do penedo...
Se mo pedisses, receber-me-ias a mim,
Fria como um rochedo
Hoje, amanhã e até ao fim...

E um penedo?! Para que haverias tu de querer um penedo?!
Se saltares, eu saltarei
Se te afundares, eu também me afundo
O medo é o meu segredo, e ter-te um segundo, o meu sonho no mundo.
Se te afundares, eu também me afundo




E nado, nado, nado...

Ás vezes mudo de dimensão, e deixo-me submergir pela doce tentação que representas, saio da vida pela porta dos fundos e entro na rua escura em que me acorrentas.
Tentação tão doce, na verdade, como amarga, tão amarga, na verdade, como venenosa...
É de fel o sentimento que gostaria que fosse de mel.
E o rio nunca encontra o mar e o amor não sai do papel.
Sei que tudo é exagero,
Neste sentimento amplo e terno,
Que no meio do frio do Invernal desespero,
Parece saído do quente inferno
E assim, afogo-me no sangue nosso,
Vermelho de amor, vermelho de dor,
Vermelho quente como o calor,
Somente por não desejar respirar, mas o pior é que no meio dele não me é possível gritar.
E nado, nado, nado para o nada que não me levará a lado nenhum...
E é por isso que ficas calado.
Se soubesses, farias tudo para acabares com este deserto desolado.
Eu sei que sim...estás perdoado...
Sim, se soubesses...não ficarias calado...




As sete vidas, sem porta,
as sete portas sem vida

Sete portas segretas,
sete portas fechadas,
sete portas concretas,
de duas casas achadas.

Sete vidas de gato sem rato
Sem amor, e sem certezas
Sete pares de pés sem sapato
Sem reis, sem altezas

Vidas tristes, paradas
Sem nenhum aparato
Sete pedras talhadas
Por um deus tão ingrato

É longo o caminho, e um enigma o destino, são sete portas marcadas por um sinal repentino.
A primeira é de pedra.
É uma porta robusta, monumental, forte, impenetrável, impossível de arrombar, impossível de destruir. É blindada e foi cerrada com a força de quem desiste cedo. Só poderás transpo-la se descobrires o segredo, que está disfarçado de força, mas que não passa de medo.



Enclausurei-me aqui,
 neste quarto sombrio,
tão hostil, tão árido e tão inóspito
como um deserto em chamas de fogo frio,
mas não é um quarto, é um deposito.

Armazem de loucura, e de terrível solidão,
terrível como estar aqui e ali não...
Mas a culpa é minha, e em tribunal,
nunca poderei
exigir,
pedir,
ou suplicar
 pela absolvissão.

Só não quero voltar a levar comigo,
deste quarto, a tenebrosa e dura tensão,
Nem corpo, nem alma, nem umbigo
Quero que fique aqui todo o furacão
Vou procurar o sossego de um abrigo
E enterrar a desilusão no chão



É como um limbo

É como um limbo,
 é um entre, que quer seguir em frente,
mas sem esquecer o precedente,
é um entre que do mundo me torna indelineávelmente ausente...
é como um limbo
É um entre, entre a vida e sorte,
 entre a saída e a morte,
 entre o sul e o norte,
um entre, entre o mar e a tempestade forte.
É como um limbo
É um entre dois destinos
É um entre dois caminhos
é um entre, entre a coragem e a desistência, a luta e a resignação...
é como um limbo...
é um entre, entre mim e a minha força para me pedir perdão...
É como um limbo...
É um lugar perdido, no meio da confusão...
Parece um limbo, mas não é um limbo não...
O limbo não existe e a vida é ilusão
Parece um limbo
Mas é apenas perdição...

O limbo não existiu
e Jesus não teve caixão
Só existe o paraíso
e a infernal tentação
a falta de juízo
e o excesso de razão...
não existe o limbo
não existe não...
ou se escolhe o caminho
ou se perde o coração
e não existe o limbo
é apenas paixão,
de crianças ingénuas,
sem direito a terminação.



« Oh, amor turbolento! Oh, ódio de amor!Oh, coisa misteriosa que do nada vêm! Oh, pesada leveza, vaidade séria, caos informe de formas sedutoras, pena de chumbo, fumo resplandescente, fogo gelado, saúde doentia, sono em perpétua vigília, que nunca é o que é! – Tal é o amor que sinto, sem encontrar em tal amor amor algum(...)»




Sabes como é ? Eu também sei...

Sabes como é. É  uma sensação e não passa disso, eu sei, mas angústia, desespera e desatina até um rei...tu sabes? Eu também sei.
É aquela sensação de que a vida está a passar e de que nós estamos simplesmente a passar nela...
É aquela sensação de que as horas passam iguais, tranquilas, triviais e em filas, mas de que nós não passamos nelas...
É uma sensação, eu sei, mas desatina tanto que até chorei...
É aquela sensação desagradável que nos faz sentir presos dentro de nós mesmos e da nossa inércia...é um sensação tão humana, que nem causa controvérsia...
É aquela sensação que nos faz sentir que parámos, e sem sequer repararmos
o mundo entrou em erupção, está uma confusão, e a nossa sensação...tão terrível como temível é de já nele não termos mão...
É uma sensação, eu sei, e quando passar nem me vou lembrar do que passei...
Sabes como é... resume-se à tenebrosa dinâmica das coisas,
e um dia vou lembrar-me do que nunca esquecerei...
Tu sabes, não sabes? Eu também sei...





Porque o mundo é finito...

E era tão lindo sair para a rua de vestido, e correr, correr, correr, tropeçar e não cair...rir, rir, rir, até encontrar e descobrir.
Voar pelo mar, nadar pelo céu, amar um olhar e retirar o véu...
E tão lindo era ainda restar folgo no peito, para correr, andar e para morrer no teu leito, e contigo sonhar, vendo castelos no ar...era tão lindo, como demasiado perfeito...
E era ainda tão lindo...meu amor, como seria, ir da terra à lua num foguetão e sentir essa presença tua, no meu coração...
Era tão lindo, como chegar ao fim e não acabar o mundo.
Era tão lindo como ver-te dormindo, num sono profundo...
Era tão lindo como seria lindo um dia ser verdade a ilusão...
Isso porque eu no fundo
Só te quero dar a mão...
Era tão lindo
Como um amor infinito
Que não cabe no mundo
Porque o mundo é finito...

Sair para rua...correr, rir, encontrar-te...e descobrir...mas não cabe no mundo, porque o mundo é finito...nem sei se é verdade, mas é o que indelineávelmente sinto...




Olho...

Olho para o céu e penso,
observo a rua e penso,
vejo a imagem no espelho e penso,
reparo na alma e penso,
penso na vida e penso
 num só ser, e num só lugar...
aquele em que nos devíamos encontrar...
olho para qualquer coisa e penso em ti, sem o poder controlar, sem o desejar suportar... olho, vejo e tento não chorar, pode ser uma lâmpada, pode ser um jornal, uma espada, um punhal...tudo é igual e para mim tão fatal...
 parece  que até te perdi...
como se eu algum dia te fosse encontrar!
Tenho raiva de ti, porque é que não me deixas enfim sair do escuro infernal, a mim, que não te fiz afinal nenhum mal?!
A dor que me causas, meu deus, é uma dor mortal, e o vazio que criaste, transcendental, antes de ti o vácuo era abstracto, agora demasiado concreto, específico e selecto, o buraco que cavaste, irresponsável e despreocupadamente é tão grande, como um grande deserto...e isso nunca será correcto, nunca estará certo, porque nunca te verei de perto...


É tão ridículo deixarmo-nos apaixonar, é assinar um contrato com a dor, e deixa-la sem forças desfrutar da nossa fraqueza maior: amar.




Queres dar a volta ao mundo?

Queres dar a volta ao mundo? Vamos trocar-lhe as voltas, anda! Vamos gritar ao mundo o que nos consome lá no fundo, vamos dar a volta ao mundo, temo-lo ao contrário, e não podes ter medo, que já não estamos no infantário.
Vamos correr, vamos brincar, vamos morrer, de que vale a sensatez, se tudo um dia vamos perder?
Não podemos deixar nos pisem, que nos incluam nos seus cozinhados mórbidos de mediocridade, não podemos nunca recusar o impulso de uma vontade, que se o carácter que lhe dá vida for de valor, nunca será polvilhada com maldade...
Nunca nos vão compreender todos, nunca todos vão desejar ouvir-nos, nunca será unânime uma opinião sobre nós. Nunca...por isso de nada vale sacrificarmo-nos pelo mundo, tudo o que fizermos devemos faze-lo por nós antes de tudo, quando damos uma moeda a um pedinte, quando somos um bom ouvinte, quando aceitamos um convite não o fazemos só pelos outros, fazemo-lo também por nós, principalmente por nós...e não, não é egocentrismo, não sejamos cínicos, sentimo-nos bem quando fazemos o bem sem olhar a quem e também quando olhamos...suponho mesmo que todos o sintamos...suponho...aliás, suponho que todos sintamos alguma coisa, mas às vezes tenho dúvidas...sim...porque eu tenho dúvidas e até me engano às vezes...
E enganada, para alguns estarei sempre, e simultaneamente para outros serei sempre a dona da opinião acertada...Nem uns, nem outros me percebem, deixam-se todos convencer com a ínfima parte do nada, materializada numa conversa bem ou mal arquitectada...
Os que me compreendem são aqueles que depreendem que atrás de tudo o que disse e de tudo o que irei dizer, se esconde uma coisa muito simples: uma questão...
- Qual é o sentido? Eu sei a resposta.
Infelizmente...e quem perceber, mas não a souber, ainda está a fase em que mente...tão infeliz, tão inconsequente...



Cruzam-se olhares

Cruzam-se os olhares, como se cruzam espadas,
 como se cruzam vidas,
 como se cruzam barcos, de histórias inventadas,
que podiam ter sido vividas...

Cruzam-se curtos olhares e longas expectativas,
partilham-se momentos sedentos,
que embora fugazes são meus rebentos,
que embora fugazes são de duas iniciativas...

Olhares de quem quer e não pode
Olhares de quem pode e não deve
Olhares que pedem
Olhares que tudo devem...

Momentos de olhares que são apenas fragmentos,
de histórias que sem começo, não têm encerramentos...

fragmentos sem adeus...
momentos tão meus, como teus,
tão nossos como de ninguém...
apenas olhares
de momentos...
apenas fragmentos...
de olhares...
meus
teus
nossos talvez
teus
meus
nossos
de ninguém...
fugazes olhares...
em nossos
particulares lugares...




Olhamos, vemos, reparamos, e com o olhar falamos, e dizemos muito mais do que se falássemos, aliás se porventura trocasse mos palavras, a magia dissipar-se-ia como se dissipa o nevoeiro sentido, que depois de passar, parece nunca ter existido...
Ficaríamos a apalpar o vazio, ridículos por termos acreditado no que nunca existiu...
Mas há olhares e olhares, à olhares que podiam ter sido e não foram, à amores que podiam ter decorrido e que foram apenas um olhar sofrido.
Há olhares e olhares, uns vazios, outros profundos como mares...
Olhares e olhares...sempre perdidos por difusos lugares...onde se cruzam as almas e se acabam os mares...olhares perdidos no infinito, que tem tanto de ilusão...como de bonito...




E depois há o que não se disse, e ainda o que se queria ter dito e não disse...ficando a pergunta que não obteve resposta, por não ter sido exposta, pairando no ar, palpitando de pura revolta...e tão subtil como uma secreta derrota...
E também depois existe o que para sempre nos arrependeremos de nunca ter dito...
E existe ainda o que não se pode dizer...e que por termos de esconder, tanto nos faz sofrer...




Olhares estão perdidos no caminho do desencanto...
Por não serem notados...
Corações estão sozinhos num escuro recanto...
Por não serem amados...
E os dias, são tantos os dias, consumidos num doloroso pranto...
Por não serem aproveitados...




As minhas qualidades não chegam para colmatar os meus defeitos...pois os meus defeitos são fruto das minhas qualidades...que assim acabam também por ser defeitos...que não são para todos, só para os eleitos...




Está ai alguém?

E tudo é mais carnal, tudo é mais brutal, banal, mortal...
Tudo fica aquém, perdido no além, sem ninguém, além, além...

E Tudo fica no que vai, ai, e o mundo continua o mesmo quando alguém sai...e sai, e sai, e sai...
porque tem de ir e vai,
porque quer voar e cai...

e além não há ninguém, só um vazio sem alguém...
brutal, banal, mortal, é assim...gritai, gritai...fugi! Parai, parai!
 Brutal, banal, mortal,
 é assim e não tem mal...

gritai, gritai, gritai, até que alguém perceba o ai...

E...e...e, além, além, além...
Alguém?!
Não sei...
Ei!
Está ai alguém?!
Perdido no além...
Se estiver não sei...




A esperança de um Outono

Existe um tu, que é meu,
mas nunca existirá um eu meu, que seja teu...
fui eu quem te sonhou,
fui eu quem te perdeu.

E o seu a seu dono...

Esquecido num sono sem lei
está o meu eu perdido no teu abandono...

Um coração meu que ardeu
na esperança de um Outono...

Mas ainda assim, existe ainda, um tu,
num sonho que de tão nosso, só é meu...

Um sonho
livre e que reside no calor do inverno

Um sonho
que vivido no azul do céu
esteve preso no fogo do inferno...

E um coração, meu, ardeu
Na esperança de uma Primavera...

Um coração ardeu...
por não ter o que o sonho lhe deu...
e assim sofreu
caiu e morreu...

Um coração meu
que nunca foi, nem será teu...
mas que é nosso
mas que é só meu...
um coração que caiu no fosso
do inferno no céu...
que de tão nosso
nunca será teu...



Apetece-me rir deste drama que é o mundo, e chorar perdidamente visionando, como se estivesse no cinema, a fabulosa comédia que a vida é.
Apetece-me fazer escárnio dessa treta a que dão o nome de amor, e que embora rime com calor, faz melhor par com dor.
Apetece-me abanar o Murfy e dar um estalo ao Epícuro...
Apetece-me ir para onde for, e finalmente ver a cor...
Apetece-me viver a vida sem prever o futuro...
e...apetece-me
Apetece-me...simplesmente, com a força que um apetite tem, ter-te a ti, a ti e a mais ninguém...




Ou digo tudo, ou não digo nada, a minha casa não tem fachada, sou o que sou, o que tenho e que dou, sou meus caminhos, sou onde fico, sou onde vou...



Quem sou eu afinal?
Sou eu e sou a mim igual...


E se eu tentasse adivinhar? Assim, sem perguntar? Podia inventar tudo. Talvez um dia o faça, quando já mal não me faça.


Adoro a minha visão períferica, à falta dos óculos escuros que não uso, é perfeita para esconder, permitindo ver, a consistência matérica, da tua existência. Obrigada visão períferica, é graças a ti que não estou sempre estérica...

(...)

E depois acaba, assim de repente, com um não inconsequente num final deprimente.
Ontem amava-se, hoje gosta-se, amanhã pode ser que se odeie.
Não é que me admirem tais desígnios do amor, tão efémero como o torpor numa dor...o que me espanta é a falta de respeito...


(...)
Realmente seria despropositado, inusitado, grotesco até. Assustador sem dúvida. Eu pelo menos assustava-me...